Casos de tráfico e uso de drogas, porte de facas, revólveres, ameaças de morte e agressões. Esta é a realidade de muitas escolas públicas da Grande Salvador. Quem alerta é a titular da Delegacia para o Adolescente Infrator (DAI), Claudenice Maio, que passou a registrar em estatísticas as ocorrências nas instituições de ensino, diante do crescimento aparente deste ano. Somente nos dois primeiros meses de aula de 2009 (março e abril), já foram catalogadas 51 ocorrências nas escolas da capital baiana e cidades da região metropolitana, três na rede municipal. De acordo com dados da DAI, unidade situada no bairro de Pitangueiras, 140 adolescentes foram apreendidos traficando drogas em Salvador e região metropolitana, 8,5% a mais que os 125 casos catalogados em 2007, e 125% a mais que os 62 de 2006. “E as ocorrências nas escolas vêm se tornando cada vez mais frequentes”, afirma a delegada. São histórias como a do jovem de 17 anos que chegou à unidade policial há três semanas. Ele foi apreendido por policiais militares com 45 pedras de crack no subúrbio ferroviário de Salvador. “Eu faço isso para poder comprar minhas coisas. Minha mãe é doméstica e não tem dinheiro”, tenta justificar o garoto. A polícia não descarta que o jovem também leve a droga para dentro da escola, onde cursa a 4ª série do ensino médio. “Mas precisamos investigar mais esta informação”, explica Claudenice Maio. As escolas da capital baiana são cenários de muitas outras histórias de violência envolvendo jovens. No mês de março deste ano, 28 adolescentes foram apreendidos em instituições de ensino depois de agressões, ameaças de morte e até portando armas, principalmente facas. É quase um caso por dia, a maior parte nas escolas municipais e estaduais da capital baiana e região metropolitana. No mês de abril, foram 23 casos. “As justificativas são sempre as mesmas, eles alegam que estavam portando armas para se defender”, explica a titular. Como o menino de 16 anos flagrado, semana passada, entrando no Colégio Estadual Pinto de Aguiar, localizado no bairro de Mussurunga, com uma faca do irmão, membro do Exército. Segundo o depoimento do garoto, ele vinha sendo ameaçado por um colega: “Ele cismou que eu estava olhando para a namorada dele, mas era mentira”. Por quatro dias, o adolescente não compareceu à escola, alegando à mãe ter sido suspenso. Quando retornou, entrou no colégio com a faca do irmão. “Da mesma forma que os outros dizem, alegou que era para se defender”, conta a delegada. Ameaça – Segundo tipo de violência mais frequente em escolas, a ameaça de morte é situação corriqueira sofrida por professores e diretores. No início do mês de abril, um adolescente de 16 anos ameaçou matar uma professora e a diretora do Colégio Estadual Márcia Meccia, situada no bairro de Mata Escura. “A professora tentou tirá-lo da sala e ele se recusou. Com a chegada da diretora, após uma discussão, só saiu da sala após fazer o sinal com a mão de que mataria as duas”, contou a titular da Delegacia para o Adolescente Infrator. Desestrutura – Para a delegada, faltam políticas públicas de investimento do Estado, tanto no âmbito estrutural como educacional. O Colégio Lomanto Júnior, situado no bairro de Itapuã, é um exemplo disso. A falta de verba estadual impossibilitou a construção de um muro, que caiu há um ano. No seu lugar, foram erguidos tapumes. De acordo com o vice-diretor, Roberto Andrios, sem muro, as aulas noturnas chegaram a ser suspensas durante um dia, e 700 alunos ficaram sem aulas. O colégio também não recebeu 28 TVs pendrive pelo risco de roubo. Segundo relatos de alunos, “estranhos” têm entrado no colégio para furtar. “A comunidade reclama. É fácil entrar qualquer pessoa. E temos meninos pequenos, do ensino fundamental”, alerta a coordenadora pedagógica, Ana Ferraz. “A gente fica com medo da bandidagem. Não podemos deixar mais nada nas salas de aula, senão as coisas somem”, conta Maxwell Santos, 17 anos, aluno do 1º ano do ensino médio.
Helga Cirino, Jornal A Tarde
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